O movimento FIRE é uma forma de busca pela felicidade.
Adquirir a independência financeira e focar as energias onde você encontra mais satisfação e propósito.
Fico bastante feliz em saber que muitas pessoas estão encontrando a felicidade no tempo livre e menos em bens materiais.
Afinal, esse é um grande ideal do iluminismo que foi esquecido ao longo do tempo.
No começo da era moderna pensadores contemplaram um futuro onde os seres humanos se dedicariam a criatividade e ao pensamento.
Ou seja, as máquinas fariam o trabalho necessário para prover alimento, moradia e suprimentos básicos para a vida humana.
Contudo, a humanidade caminhou em outro sentido.
O trabalho massivo migrou do campo para as fábricas.
Portanto, as cidades cresceram.
O tempo livre parou de ser algo bom, o valor foi colocado na alocação ótima do tempo, para obter o máximo de recursos.
Dessa forma, se criou algo novo na história da humanidade: a escada corporativa.
Vale lembrar, essa escada nunca existiu antes.
Ou seja, a sociedade ao longo do tempo, foi muito mais dividida pelo nascimento do que por mérito.
Ao final, essa pequena ilusão foi tão bonita quanto passageira.
Se por algumas décadas acreditamos que esforço pessoal poderia trazer méritos suficientes para chegar ao topo de carreiras espetaculares, essa esperança está indo embora.
Portanto, a tecnologia é tanto libertadora quanto concentradora de oportunidades.
Existem cada vez menos empregos e esses levam cada vez menos longe.
Mas, isso não é uma apologia à tristeza e sim uma saudação à felicidade.
Prefiro pensar que iremos nos reencontrar com os filósofos.
Tempo livre será libertação e igualdade.
Sim, precisaremos instituir a renda mínima universal.
Por outro lado, faremos a energia barata e a inteligência artificial aumentarem a produtividade necessária para pagar essa conta.
Os empregos existirão, mas os sábios do futuro vão priorizar tempo, gerando um equilíbrio de forças entre empregado e empregador mais saudável.
Esse é o admirável mundo novo?
Sim, esse é o cenário positivo e viável para onde nossa sociedade deve convergir.
Ao longo do tempo, o fato de termos avançado na crença de que a tecnologia iria transferir empregos de um lugar para o outro agravou as diferenças econômicas e sociais.
Ou seja, está claro que a tecnologia retira empregos do mundo.
Isso não é ruim.
Precisamos perceber que não há necessidade de miséria.
No auge da pandemia trilhões de dólares foram criados.
Empresas zumbis estão vivendo.
Ainda assim, podemos acreditar que distribuir recursos para evitar a pobreza não é uma solução viável.
Que o emprego é a única salvação. Na minha opinião, essa ilusão está acabando.
Acredito que estamos superando essa falha cognitiva.
Por outro lado, essa falha subestima os seres humanos.
Todas as pessoas vão querer a renda mínima de subsistência?
Se acreditarmos nisso, provavelmente nunca será possível alcançá-la.
Por consequência viveríamos no paradoxal mundo da inteligência artificial convivendo com a fome.
Contudo, não acredito que esse seja o caso.
O futuro será feliz!
Os seres humanos querem trabalhar, querem preencher o senso de propósito e pertencimento.
Mas, da forma como está, não existe margem de segurança adequada para o risco.
O que eu quero dizer com isso?
Quem pode arriscar em aprender um novo ofício, enquanto o seu salário é reduzido e não há outra fonte de renda?
Seria possível ficar alguns anos estudando uma nova tecnologia, para desenvolver um produto mais eficiente?
A maior parte da população hoje não pode desfrutar dessas oportunidades.
Acredito que elas possam ser devolvidas para uma boa parte das pessoas, quando a renda mínima for uma realidade.
Verdade seja dita, alguns países já estão nessa realidade.
O seguro desemprego na Suíça não tem prazo. Ele paga 70% do último salário.
Capacitação pode ser aceito como justificativa para se manter por anos com o subsídio do governo.
Isso não está fazendo com que o país entre em colapso, parece ser o oposto disso.
Ano | Taxa de desemprego da Suíça |
2019 | 4.87% |
2018 | 4.88% |
2017 | 4.8% |
2016 | 4.92% |
Algo semelhante acontece na Austrália, onde não há prazo máximo para se manter no seguro desemprego.
Ainda assim as taxas de desemprego são baixas.
Ou seja, o fato de existir a possibilidade de viver sem trabalhar, não quer dizer que a maioria das pessoas opta por esse recurso.
Por outro lado, em ambos os casos o nível de escolaridade e produtividade da economia está crescendo.
Explicando a felicidade FIRE
O que acredito é que o ideal de felicidade do período industrial estava ligado ao “american way of life”.
O que é o “american way of life” ?
Você terá uma família, um emprego com salários crescentes e um poder de consumo crescente.
O seu consumo crescente permite que você abra portas cada vez mais altas na sociedade.
O seu status social é condizente com os seus bens e as suas conquistas são traduzidas nas suas compras ao longo da vida.
Essa felicidade do século passado é dependente de trabalhos seguros e um alto nível de endividamento familiar.
O sistema de seguridade social deve garantir a sua aposentadoria, porque você irá consumir todos os seus rendimentos ao longo da vida.
A felicidade está em ter um status social cada vez mais elevado.
Ser aceito em esferas cada vez mais altas da sociedade é sinônimo de sucesso.
Isso também garante que os seus filhos terão acesso às melhores universidades e que esse ciclo irá se perpetuar.
Como você já deve ter percebido, existem algumas graves falhas nesse modelo.
Primeiro: algumas dessas premissas não são mais verdadeiras.
Quais?
O emprego estável com salários crescentes ao longo da vida não existe mais, ou está ameaçado de extinção.
A aposentadoria garantida pelo Estado está bastante ameaçada.
Segundo: o ideal de felicidade baseada no consumo é fraco.
No “american way of life”, o consumo é um papel muito importante, ele é o responsável por abrir portas e gerar o sentimento de pertencimento.
Você frequenta um clube de esportes, quando pode morar em determinado bairro, dirigindo um carro específico e colocando os filhos em escolas caras.
Naturalmente todos esses gastos para sustentar um padrão de vida não gera felicidade.
Pelo contrário, quanto mais esses gastos aumentam, maior o medo de perder as condições de mantê-los.
Esse modelo de felicidade está morrendo por inanição.
Ou seja, são tão poucas pessoas aptas a sustentar esse modelo, que ele acaba perdendo o status de ideal de vida.
Qual é o novo modelo de felicidade?
Os pilares da felicidade FIRE são: liberdade, tempo, propósito e relacionamento.
A liberdade é um valor amplo, mas no movimento FIRE está associada a fonte de renda e interação com o trabalho.
Portanto, enquanto na era industrial você teria uma relação longa e de dependência para com o seu empregador, atualmente você tem mais autonomia e responsabilidade.
Autonomia para exercer mais de uma atividade, ter muitos vínculos de trabalho, ou usufruir de pequenas aposentadorias ao longo da vida.
Responsabilidade para com o seu futuro, o empregador ou o governo estão deixando de ser garantidores da sua renda futura.
Contudo, existem pontos negativos.
Você precisa pensar no seu futuro mais do que em outros momentos.
Porém, acabamos descobrindo que se consumirmos menos garantir a independência financeira não é algo impossível.
Muito pelo contrário.
Se você tiver independência financeira e saúde você não passará dificuldades.
Você poderá estabelecer relações sólidas e tentar projetos audaciosos, que além de gerarem motivação, costumam render bons frutos financeiros.
Esse não é o fim da família, nem do trabalho, nem a condenação dos idosos à uma vida de restrições.
Os adeptos do movimento FIRE costumam dar muita importância para família.
Além disso, costumam ter uma ética de trabalho muito forte, visto que conseguiram acumular um patrimônio considerável através do trabalho.
Por fim, desenvolver bons projetos que surgem da união entre hobby e trabalho acabam sendo a chave final para a felicidade.
O ideal de vida que substitui o american way of life é a felicidade FIRE.
Relações, hobbies, conhecimento e saúde.
O trabalho árduo nesses componentes da felicidade, faz com que a qualidade de vida seja constantemente elevada, mesmo sem aumentar o consumo.
Por outro lado, para interpretar e reinterpretar esses valores a busca pelo conhecimento tem um papel fundamental.
Isso quer dizer que o estudo de conceitos teóricos e práticos é algo bastante comum.
Nesse post falei sobre a relação entre estoicismo e o movimento FIRE.
Você acredita que a felicidade FIRE vai substituir o “American way of life”?
Deixe o seu comentário abaixo.
Muito obrigado por ler o texto até aqui.
Forte abraço